terça-feira, 11 de janeiro de 2011

11/01/2011


Não há como encontrar explicação

Quanto se perde um ente querido,

Um pai, um irmão, um amigo,

Um caso novo, um amor antigo,

Um animal de estimação.



A morte não se explica,

Não se justifica.

Não adianta gritar com Deus,

Insultar e dar as costas para o mundo.

Há de se lembrar,

O Universo é regido pelo acaso,

Não pelo descaso.



Qualquer crença ou filosofia não é suficiente.

Isso é fato.

Quando a saudade se instala no coração,

Na hora em que o trem leva

Quem tanto amamos na vida

Para a próxima e longínqua estação,

Tudo perde o sentido.

O tempo pára,

O sol já não esquenta,

A chuva não refresca,

A comida fica entalada na garganta,

A água parece um plasma insosso.

A rima perde a graça,

O sentido e o verso.

Mas a gente insiste em encontrar conforto,

Seja na desculpa, no argumento,

No laudo médico do plantonista.

No entanto, quando o pneu desgasta e a curva fecha,

Não há como se segurar na pista.



É estranha essa dádiva

Como é estranha essa experiência.

A corrida do corpo em busca do altar

Oferecendo a alma como o preço do jogo da vida,

Uma passagem sem volta que não queremos comprar.

Muitos por não saber o destino, outros, se poderão retornar.


Rezamos por hora, às vezes, sem acreditar

Por mais forte ou ríspido seja o ser,

O nocaute é certeiro.

O esqueleto desmonta na cama,

Alguns tentam manter a pose mas,

Lenços e lençóis são inundados

Pela dor de amar e não poder partilhar.



Inevitável como deve ser

Ela busca e leva para algum lugar

Aqueles que um dia viajaram com a gente,

Falando, brigando ou apenas vivendo.

Compartilhando o sorriso triste,

O choro contente.

O almoço de domingo e a pipoca no sofá.



Já no momento seguinte vem a necessidade

De continuar fazendo o dia-a-dia,

Reproduzindo as rotinas,

Tirando o pó das cortinas,

Para ver brilhar a realidade.


Depois o que fica é a certeza

De que tudo está fora do nosso controle

E não sabemos o que virá pela frente.

No mais, não há oração, pensamento ou conselho,

Não há abraço que acolha o suficiente.

Não há poesia ou texto que estanque,

Que tire dos ombros o fardo da dor,

De, agora, ter as lembranças no coração

E apenas a foto na estante.


por Mário Barroso

Um comentário:

Karenzinha disse...

Compartilho... meu coração compartilha...