quinta-feira, 28 de abril de 2011

O visível e o invisível no debate sobre a cultura

Cientes da amplitude do apoio às políticas da gestão anterior, os novos ocupantes do MinC têm se apressado em negar qualquer ruptura entre as gestões. Segundo a ministra Ana de Hollanda, “um governo de continuidade pode ter outros focos, o que não significa anular ou inverter o que foi feito.” O que é curioso – e preocupante – nessa tentativa de apresentar os novos rumos como continuação dos antigos é que, sempre que se fala destes, parece ser ou para criticá-los de forma velada, ou para elogiá-los por ser aquilo que não eram. Em outras palavras, talvez na ausência de uma nova agenda ou no temor de publicamente assumi-la, busca-se afirmar uma continuidade com algo que se demonstra desconhecer ou desaprovar.

É uma negação que, pelo jeito de negar, parece confirmar o que nega: “a dama protesta demais”, como disse a mãe de Hamlet, vendo-se representar numa peça de teatro. Justamente por isso convém, à maneira dos psicanalistas, escutar este discurso, para ouvir, naquilo que diz, o que deixa de dizer: o modo como organiza sua luz e suas sombras, como distribui o visível e o invisível.

Até aqui, a maior celeuma envolvendo a nova gestão é a do passo atrás na reforma do direito autoral. Não tanto (ou apenas) pela controvérsia própria ao tema, mas principalmente pela forma como nela se operou. Primeiro, retirando um anteprojeto de lei resultante de um debate de cinco anos, aberto a todos os interessados, com o pitoresco argumento de que este seria, ao mesmo tempo, amplamente desconhecido e rejeitado. Em seguida, substituindo a pessoa que acompanhou todo o processo pela Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI) por alguém com vínculos históricos com os maiores interessados em deixar a área como está: o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). (Se você quisesse conhecer melhor o trabalho que estava sendo feito antes de você chegar, retiraria do cargo quem melhor o conhecia?) A situação já foi comparada a botar um ruralista para cuidar da reforma agrária, mas se assemelha mais ao “tapetão” de nossos cartolas futebolísticos: onde o time que perdeu “em campo” (no debate de cinco anos) consegue, pela força de seu lobby, não somente marcar um novo jogo, mas indicar o juiz.

Mas não é preciso pôr em dúvida a sinceridade das declarações feitas até aqui para ver problemas sérios. A insistência em alegar ignorância sobre o anteprojeto como razão para retomar a discussão faz suspeitar que os novos responsáveis pela área simplesmente não estavam prestando atenção no que nela ocorreu nos últimos anos – o que necessariamente põe em questão seu preparo para assumi-la. E quando se ouve atenta para o visível e o invisível no discurso, a suspeita só faz se confirmar.

Por exemplo, na declaração da nova titular da DDI de que é preciso “achar um denominador comum” entre os “projetos fantásticos” do “pessoal da mídia livre, para aumentar o acesso à cultura, (...) e os autores”. Ou quando Antonio Grassi, presidente da Funarte, diz que “houve um momento em que se fomentou a importância de fazer inclusão social por meio da arte, e a excelência artística ficou em segundo plano”. Implícita, aqui, está uma distinção entre dois estratos e duas formas diferentes de atuação na área cultural. De um lado, temos os “autores”, indivíduos capazes de uma elaboração artística apurada (“excelência”), que necessita ser tornada mais acessível para o restante da população sem, contudo, pôr em risco sua capacidade de viver daquilo que fazem. Esses são os verdadeiros “produtores” de cultura. De outro lado, temos os difusores, que são mais exatamente prestadores de serviço: prestam o “fantástico” serviço de aumentar o acesso e fomentar a inclusão social por meio da cultura, mas não são realmente “produtores”.

O que há de errado com essa visão? Em primeiro lugar, ela demonstra a não-assimilação da verdadeira inovação da política cultural nos últimos oito anos: a de partir do princípio de que as condições tecnológicas presentes permitem uma democratização antes inimaginável dos meios de produção e circulação de artefatos culturais. Em outras palavras, a política das gestões anteriores do MinC nunca foi meramente de “democratização do acesso” ou de “inclusão social”, porque não visava oferecer as condições para a criação somente de consumidores, mas, principalmente, de produtores de cultura.

O desentendimento parece vir, em segundo lugar, de uma diferença de fundo na maneira de conceber a cultura. Porque, se o antigo MinC chegou a esse tipo de formulação, foi por ter partido do princípio que todos são, sempre, produtores de cultura, sem distinção hierárquica entre a vasta planície e aquele pequeno Parnaso habitado por uns poucos “autores” que, por seu dom de “excelência”, merecem o reconhecimento de todos.

Podemos explicar a diferença com uma metáfora: pode-se pensar a cultura ou como vazio, ou como plenitude. No primeiro caso, temos uma tabula rasa onde a cada tanto um “autor” vem depositar sua criação; essa se difunde, se imita, se dilui, se mistura a outras linhagens, até que um novo “autor” arranque “de seu íntimo” uma nova criação. No segundo caso, há produção e circulação constante, vinda de todos os lados; a “criação” nada mais é que uma recombinação inovadora de diferentes elementos já existentes, um efeito secundário da circulação de ideias, afecções e influências; e o grande “autor” é simplesmente aquele que faz, de uma ampla gama de influências e elementos, uma síntese mais relevante e cheia de significados. (Isso implica, com frequência, que também seja alguém com acesso a uma gama maior, o que é, claro, em parte socialmente determinado. Chico possivelmente ainda seria Chico se não fosse Buarque de Hollanda, mas dificilmente conseguiria ser Chico se fosse o mais reles Silva.)

As diferenças entre as implicações de cada posição podem ser vistas na prática. Reduzir a produção de cultura ao trabalho de um pequeno número de “autores” nos dá uma imagem falseada daquilo que é a cadeia de produção da cultura hoje, bem como quem são seus atores econômicos. A realidade dos pouquíssimos produtores de cultura que conseguem viver de direito autoral é tomada como padrão, e a verdadeira condição da grande maioria dos que trabalham e tentam ganhar a vida com a produção cultural é inteiramente apagada. Um cenário complexo, onde há “pequenos”, “médios” e “grandes” – e onde os grandes são a exceção – é achatado em favor de uma oposição simples entre o Parnaso dos “autores” e a planície dos “usuários”. Para seguir no campo das metáforas futebolísticas, é como pensar o mercado esportivo brasileiro a partir de Ronaldinho, e não da massa de jogadores espalhados em milhares de times pequenos Brasil afora.

Por extensão, também a imagem que se oferece do debate sobre direito autoral será invertida e mistificada. Segundo a ministra, “comentava-se muito no meio cultural que as mudanças estavam deixando o autor em uma situação frágil em vários aspectos”. Já para a nova diretora da DDI, “todo mundo quer ter acesso aos bens culturais (...), mas há pessoas que vivem e dependem desses direitos. Quem produz precisa ser remunerado.” Assim, uma questão que toca a todos que produzem e consomem cultura é transformada numa simples oposição entre “meio cultural” (os “autores”, que vivem de direito autoral) e consumidores (que querem tudo de graça).

A vantagem prática da concepção de cultura do antigo MinC fica clara: partindo dos princípios de que todos são produtores de cultura e de que as transformações tecnológicas são irreversíveis e precisam ter seu potencial produtivo explorado, é possível pensar a produção de cultura como ela realmente é – hoje, nas condições da produção pós-industrial – ao invés de como ela é para os poucos que “chegaram lá” (e conseguiram “ficar lá”) no antigo sistema industrial. Pensar o iceberg a partir não da ponta, mas da base; e eleger a base, não a ponta, como o foco da política pública.

A diferença entre as duas concepções de cultura que se confrontam ao redor do direito autoral não está, como sugere a nuvem de fumaça com que se tenta obscurecer a discussão, no fato de que a chamada “cultura livre” significaria “tudo de graça para todo mundo agora”. “Livre” como em “liberdade de expressão”, não como em “cerveja liberada” (“free” as in “free speech”, not as in “free beer”), como diz o velho lema do movimento de software livre, cujos membros costumam, justamente, ganhar a vida como produtores de software. Fazer-se de desentendido, argumentando que “quem vive de cultura têm direito a uma remuneração”, é mais que dizer o óbvio; é criar um falso debate, protestando contra algo que o anteprojeto não somente jamais propôs, como buscava maneiras de fazer – dentro da nova realidade.

O novo MinC sistematicamente esconde que a lei que se quer reformar é uma das mais restritivas do mundo. Também somem do debate, em passe de mágica igualmente sistemático, as pessoas que vivem de cultura e são a favor da reforma do direito autoral. Não a “arraia-miúda” que é invisível na concepção de cultura da atual gestão, mas gente que deveria contar mesmo na definição rarefeita de “meio cultural”: Ivan Lins, Jair Rodrigues, Ná Ozetti, Francis Hime, Fernanda Abreu e Roberto Frejat, por exemplo. Estes, reunidos no Manifesto da Terceira Via e no Grupo de Ação Parlamentar (GAP), explicitamente defendem “uma política que, sem criminalizar o usuário, garanta a remuneração dos criadores e seus parceiros de negócios” e o “projeto de reforma da lei 9.610/98, conforme encaminhado em dezembro do ano passado à Casa Civil”. A estes, hoje fora do esquema da grande indústria cultural, somam-se fenômenos pós-industriais como as bandas Teatro Mágico e Móveis Coloniais de Acaju, que, através da internet, conquistaram um público fiel em todo o país sem passar por grandes gravadoras, pagar jabá ou tocar na televisão.

Por aí se vê que não apenas é possível viver de fazer cultura nas novas condições de produção, como que muitos dos que o fazem vêem nelas um potencial emancipador. Por quê? Porque elas representam a possibilidade de realizar aquilo que sempre foi, em potência, a natureza do bem cultural.

Este é, por definição, imaterial e não-escasso: se eu comparto uma ideia, eu não deixo de tê-la. O que a digitalização e a internet permitem é sua difusão em tempo e custo praticamente zero, eliminando a necessidade de materializar-se num objeto material escasso: livros, CDs, DVDs são coisas que, até recentemente, não podiam ser compartilhadas sem perda.

Quem é atingido nessa mudança, então, não é o “criador”, mas os “atravessadores” da indústria cultural. Enquanto o artefato cultural precisava se materializar num bem físico, o produtor de cultura dependia de uma indústria para fazer a intermediação com o público. Essa relação de dependência fazia com que nem autor, nem consumidor saíssem ganhando: a parte do leão ia para o atravessador, que financiava a produção (então muito mais cara), assegurava a divulgação (frequentemente por meio do jabá e da matéria paga) e a distribuição do bem escasso.

Artistas estabelecidos conseguem ganhar mesmo assim: quando o lucro é grande, mesmo uma divisão desigual pode ser vantajosa. Além disso, os produtos comerciais destes artistas costumam ser os mais aquinhoados pelo sistema de financiamento (público) da Lei Rouanet – cuja ironia sem graça é que se investe muito na produção comercialmente viável, e pouquíssimo na que corre riscos. Em outras palavras, se dá dinheiro para aquilo que já ganha dinheiro, e não para aquilo que, justamente, mais precisaria de investimento público. Com isso, o dinheiro do contribuinte financia, não necessariamente a “excelência”, mas certamente o lucro das grandes empresas atravessadoras.

As novas condições tecnológicas barateiam a produção e dão ao produtor a possibilidade de, na posse completa de seu próprio trabalho, chegar diretamente ao público. Isso pôs os atravessadores em crise, e é cada vez menos provável que alguém, hoje, “chegue lá” pelo velho sistema industrial. Quem quiser fazê-lo terá que negociar com departamentos de marketing cada vez menos afeitos aos riscos da “excelência”, e cada vez mais interessados no retorno garantido.

Cabe então perguntar: deve-se pensar a política de cultura segundo um modelo ultrapassado que funcionava para poucos, ou um novo modelo que cria possibilidades para muitos? Deve-se pensar a partir dos “grandes” consagrados pelas antigas regras do jogo, ou dos “pequenos” e “médios” que jamais “chegarão lá” nos mesmos termos? Da perspectiva de reforçar um sistema que necessariamente cria exclusão e escassez, ou da expansão do número de produtores de cultura que conseguem viver de seu trabalho? A partir da base ou da ponta? Essas são as coordenadas do debate que deveria estar se fazendo.

Se se faz a opção por uma concepção democratizante da produção cultural, são bem-vindas as questões sobre “excelência” e “profissionalização” (outro refrão do novo MinC, para falar da necessidade de alterar o funcionamento dos Pontos de Cultura). Se por “profissionalizar” se entende oferecer as condições para a massa de novos produtores de cultura constituírem redes sustentáveis de produção e difusão, introduzindo e adaptando mecanismos do Estado para suprir as necessidades que aí se impõem, não se pode deixar de aplaudir a ideia.

Da mesma forma, se por “excelência” se entende não o banzo do Parnaso perdido, mas uma preocupação com o significado e a relevância do que um contexto muito ampliado de produtores de cultura hoje produz, a demanda é oportuna. É verdade que ainda não apareceram sínteses potentes da incrível e salutaríssima disseminação dos últimos anos. Se pensamos no quanto o acesso à produção e à circulação se ampliaram, o debate cultural e político, de fato, caminha muito atrás da nova realidade. Se pensamos na riqueza do debate sobre as intersecções entre cultura, sociedade e política que se produziu no Brasil nos anos 1960 e 1970, não dá para não pensar que as transformações recentes ainda estão longe de serem elaboradas.

Mas, novamente, a questão é: como queremos chegar a essa elaboração? Partindo do princípio de que, agora que muito mais pessoas podem ter “uma câmera na mão”, o que cabe fazer é criar as condições para uma produção e circulação que nos ponham para pensar seriamente sobre quais são, poderiam ou deveriam ser, hoje, “as ideias na cabeça”? Ou seguir pensando a partir de um velho estado de coisas, onde “uma câmera na mão” era o privilégio de poucos, tivessem eles ou não uma “idéia na cabeça”? São os “autores”, a academia, os intelectuais de todos os tipos que devem dar olhos e ouvidos a esse processo de tomada da palavra, participar dele, e, ao lado de seus novos atores, ajudar a refleti-lo e elaborá-lo. A “excelência”, se vier, virá desse movimento de incorporar-se a essa nova realidade; não de uma auto-referência que, porque só vê a si mesma como produtora de cultura, não consegue enxergá-la.

Talvez mais do que as medidas já tomadas, o que incomoda é que o novo MinC, que deveria estar puxando esses debates, ou não os compreende, ou cria, sobre eles, uma confusão deliberada. Quando o ministério da Cultura (do PT!) e a bancada ruralista estão falando a mesma língua, é de se pensar... Mas a identidade entre os discursos de Kátia Abreu e de Ana Hollanda se entende: enquanto a primeira repete a desinformação espalhada pela segunda, a segunda mobiliza os bichos-papões cansados da oposição mais rasteira – por exemplo, quando diz que supervisionar uma altamente opaca organização privada que presta um serviço público e é fortemente criticada por membros da própria classe que supostamente representa (o ECAD) seria “intervencionismo do Estado”.

(Como sói acontecer, a democracia e a não-intervenção estatal são boas para algumas coisas, e não para outras: depois de finalmente disponibilizar o texto do anteprojeto no site do ministério, abriu-se uma consulta pública – em que os comentários, ao invés de ficarem à vista de todos, fomentando o debate, devem ser enviados por email...)

É problema da presidenta que uma ministra sua municie a oposição com argumentos contra o governo. É problema de todos os que ajudaram a eleger a presidenta que uma ministra sua esteja indo contra o programa de governo no qual votaram. Mas, acima de tudo, é problema de quem deseja que o Brasil “continue mudando” ver que o novo MinC pensa de maneira mais velha que o antigo. Se a direção da mudança era democratizante e universalizante, a concepção da nova gestão, até aqui, tem se mostrado, nas linhas e nas entrelinhas, elitizante e particularista. E o que é pior: além de dar as respostas erradas, parece trabalhar para que não se consiga fazer as perguntas certas.

(*) Rodrigo Guimarães Nunes é filósofo, com doutorado pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres. Atualmente, faz pós-doutorado na PUCRS, com bolsa CAPES/PNPD. É editor da revista Turbulence (www.turbulence.org.uk), cujo conteúdo é todo disponibilizado em Creative Commons.

Fonte: www.cartamaior.com.br

 









quarta-feira, 27 de abril de 2011

Na Casa dos 30


Na casa dos 30 a gente sofre, a gente experimenta,

A gente se entrega e não se contenta.

Na casa dos 30 a gente quer virar.


Na casa dos 30 não há risco que não valha a pena.

Não há uma postura que a gente condene.

Não há porta fechada pra gente entrar.


Na casa dos 30 não importa a nossa aparência.

Não importa se estamos na falência.

Na casa dos 30 não há paciência.


Na casa dos 30 não há nada mais fora de moda.

A gente toma sopa, a gente toma foda.

A gente nem aprende e começa a ensinar.


Na casa dos 30 vale a pena escalar o morro.

Vale a pena apagar a vela do bolo.

Vale cada noite para celebrar.


Na casa dos 30 a gente pega o gosto pela coisa.

A gente se cala, discute e prosa.

A gente agiliza pra fazer mudar.


Na cada dos 30 já não há o que seja segredo.

A semana já é um desassossego.

O fim de semana é familiar.


Na casa dos 30 a realidade toma à frente.

Na casa dos 30 a gente escova os dentes

E faz tudo sem alguém ter que mandar.


Na casa dos 30 a gente casa, a gente se inventa.

A gente toma tombo e logo se levanta.

A gente não espera pra ver o que dá.


Na casa dos 30 dá pra ver o mundo lá de cima.

Mesmo com a cabeça sobre a guilhotina.

Na casa dos 30 é só deixar rolar.


Na casa dos 30 a vida começa a fazer sentido.

A rotina começa a perder a graça.

O ano começa e logo já passa.


Na casa dos 30 o sonho é mais do que possível.

Não há nada que possa ser intangível.

A gente se muda e muda de lugar.


Na casa dos 30 a gente bebe e vive na praia.

Homem usa bermuda, mulher mini-saia.

Mas a camisinha ninguém quer usar.


Na casa dos 30 cada amigo toma o seu rumo.

Uns pegam canudo, outros pegam fumo.

Uns põem aliança, outros vão rodar.


Na casa dos 30 a gente ama mais.

Na casa dos 30 a gente pega e faz.

Na casa dos 30 a gente leva e traz.


Na casa dos 30 a gente aposta mesmo sem ter ficha.

A gente compra a prazo mesmo sem certeza.

A gente dá um jeito de fazer rolar.


Na casa dos 30 a gente para de contar o tempo.

A gente começa a ficar atento.

A gente começa a recomeçar.


Na casa dos 30 a gente aprende a jogar o jogo.

A gente se acha esperto e é feito de bobo.

Vivemos como se o mundo fosse acabar.


Na casa dos 30 o vinho fica ainda mais saboroso.

O sexo fica cada dia mais gostoso.

Na casa dos 30 há muito ainda pra gozar!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

TRAMA CULTURAL - 3ª Edição


Domingo, 10/04, foi realizada a 3ª edição do TRAMA CULTURAL no bairro de Mailasky, em São Roque/SP.


O evento contou com um bom público e a presença de artistas dos segmentos de música e dança. “Foi muito gratificante ver que o Trama está contribuindo com a produção cultural local, proporcionando aos artistas das mais diferentes áreas um espaço para os mesmos apresentarem suas obras e manifestações autorais”, comentam os organizadores.

Além de ser um evento diferenciado, o TRAMA CULTURAL está servindo como um “termômetro” da produção cultural da cidade. “Na terceira edição já pudemos perceber a forte presença da dança, da música e do teatro em São Roque. A crescente participação de crianças e inúmeros jovens está dando um gás nesses segmentos. Muita gente boa vem por aí, com novas obras e interpretações, renovando o nosso casting de artistas e produtores!”, afirmam Edson D’aísa e Mário Barroso.

A próxima edição do TRAMA CULTURAL ainda não tem data definida. Os interessados em participar do evento podem acompanhar as notícias através do blog: http://tramaculturalsr.blogspot.com/

Confira as fotos do que rolou:






Fotos: Karen Vieira Barroso


Material publicado nos Blogs “Cultura Interior” e TRAMA CULTURAL:
http://grupoculturainterior.blogspot.com/
http://tramaculturalsr.blogspot.com/

terça-feira, 5 de abril de 2011

"Serenata ao Prefeito" - Projeto é aprovado por unanimidade na Câmara Municipal de São Roque/SP


Esta semana os vereadores de São Roque/SP aprovaram por unanimidade o Projeto de Lei nº26-L, de autoria do Vereador Rodrigo Nunes, que dispõe sobre as alterações das Leis municipais para solucionar a questão da Música Ao Vivo na cidade.

O projeto em tramitação consiste em alterar a redação das Leis nº 1.852/1990, nº 2.724/2002 e nº 3.372/2009. “Não queremos que a cidade vire bagunça, apenas estamos sugerindo mudanças nas Leis para que os músicos possam voltar a trabalhar, para que a população tenha mais opções de entretenimento e lazer, como também os turistas que visitam a nossa cidade”, afirmou o Vereador Rodrigo Nunes, que levou as reivindicações dos músicos e proprietários de bares e restaurantes até a Câmara Municipal, propondo as alterações das Leis em parceria com os mesmos.

“Dependemos apenas que o Prefeito compartilhe a opinião de todos os vereadores, do Conselho de Segurança, da Polícia Militar e até mesmo do seu partido político e sancione o projeto de Lei, pois todos estes setores são a favor das mudanças. Também gostaria de frisar a importância do executivo fiscalizar de forma correta os bares e restaurantes após a publicação da Lei, conforme está previsto, para evitar excessos que prejudiquem a população”, afirma o Vereador.

Agora, o Vereador Rodrigo Nunes está fazendo uma campanha pela internet intitulada “Sanciona Prefeito”, mais uma forma bem humorada e pacífica de cobrar que o Prefeito sancione o projeto de Lei.

“Todos aqueles que queiram participar podem acessar o meu perfil no Facebook (Rodrigo Nunes_Vereador) e ‘curtir’ os links que abordam esse assunto, bem como, copiar, colar e divulgar o texto #sancionaprefeito no twitter para nos ajudar nessa empreitada”, explica Rodrigo Nunes.

Assista a matéria exibida na TV TEM:
http://tn.temmais.com/noticia/5/40804/musicos_poderao_voltar_a_tocar_bares_de_sao_roque.htm

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As Revoluções no Mundo Árabe


Quantos cidadãos politizados estão questionando o verdadeiro interesse do Mundo Ocidental nas Revoluções que estão ocorrendo no Mundo Árabe. Quantos tentam buscar argumentos e informações fora dos veículos midiáticos tradicionais, como CNN, BBC, Globo News, enfim. Quantas perguntas, quantas respostas, porém, uma só verdade: independente do resultado as cartas ficarão nas mãos dos mesmos jogadores, pois infelizmente qualquer Revolução bate de frente com os interesses das grandes potências ocidentais.

Ontem os EUA, a França, a Inglaterra (o pessoalzinho que manda na OTAN) era a favor dos ditadores. Ajudavam a armar e treinar os exércitos dos mesmos, mas hoje, de repente, dizem estar a favor da população árabe que vive na miséria, com um salário mínimo apenas um pouco a baixo do cidadão brasileiro, que enfrenta praticamente o mesmo índice de desemprego dos países da América Índia, assistindo assim como no Brasil a riqueza ilícita e a soberba dos que estão no poder.

Para ajudar a esclarecer alguns pontos dessa questão, o blog “Cultura Interior” reproduz abaixo o artigo de Maurizio Matteuzzi, do jornal "Il Manifesto" (publicado recentemente pela agência de notícias “Carta Maior”".


A guerra na Líbia e as armas que restam a Kadafi
Maurizio Matteuzzi - Il Manifesto

Quem vê a Praça Verde de Trípoli, com suas marcas ainda visíveis do império turco-otomano e da posterior dominação colonial do fascismo italiano, ocupada dia e noite pelos rumorosos apoiadores de Kadafi com seus posters do Coronel e bandeiras verdes (e não raro kalashnikovs), pode acreditar que na Líbia não há oposição. Ou que a oposição é apenas, como os porta-vozes do governo libanês não cansam de repetir aos incrédulos jornalistas estrangeiros que cobrem a guerra desde a capital da Jamahiriya, uma insignificante minoria de “traidores” concentrada no leste do país – a indócil Cirenaica, baluarte do Islã militante dos “Irmãos Muçulmanos” e da fraternidade senussita do rei Idriss, o fantoche elevado ao trono pelos ingleses e derrubado pelo golpe branco dos 12 “oficiais livres” em 1969 – e manobrada por uma “conspiração” do Ocidente (sobretudo Estados Unidos, França e Inglaterra) que gostaria de transformar Bengazi em um “Emirado islâmico” na margem meridional do Mar Mediterrâneo, a dois passos da “Fortaleza Europa”. Uma aliança perversa e aparentemente “impossível”, mas já experimentada mesmo recentemente (o Afeganistão invadido pelos soviéticos, a guerra da Bósnia...).

Naturalmente, a imagem que se faz da Líbia a partir da Praça Verde – ou mesmo de Trípoli, onde Kadafi conserva um apoio popular aparentemente sólido – é muito limitada e parcial para explicar as razões profundas de uma revolta que se transformou rapidamente em uma guerra civil e a seguir em uma (nova) “guerra humanitária” em escala internacional (para Kadafi, uma “cruzada colonialista”), a quarta proclamada pelo Ocidente no vintênio seguinte ao fim oficial da “guerra fria” (duas no Iraque, Somália, Afeganistão).

A Líbia deve o seu nome aos gregos, que assim chamaram todas as terras conhecidas a oeste do Egito. Nome que foi exumado somente em 1934 quando o governo fascista italiano decidiu unificar as três províncias da Tripolitânia, do Fezzan e da Cirenaica. Foi sempre uma terra de conquista, mas muito dura de conquistar, e sempre um lugar estratégico, mesmo antes que, no início dos anos 50, fosse descoberto o petróleo. Um monte (antes da guerra de fevereiro, produzia 1,6 bilhões de barris por dia, tendo as maiores reservas comprovadas da África).

A Líbia, o quarto maior país da África, é o divisor de águas entre o Magreb, o Ocidente árabe que começa no Marrocos, e o Mashreq, o Oriente árabe que chega até a Síria. A linha imaginária de fronteira corta a Líbia em duas e corresponde, grosso modo, à Tripolitânia a oeste (com o Fezzan ao sul) e a Cirenaica a leste. As duas regiões em guerra desde 17 de fevereiro último, que poderiam corresponder a dois novos países. O tabu da intangibilidade das fronteiras da África, traçadas o mais das vezes arbitrariamente pelo colonialismo, já foi derrubado em 93 com a secessão da Eritréia da Etiópia e, agora, com a do Sudão do Sul do Sudão. A Líbia poderia ir atrás. Por enquanto, é ainda “fanta-política”. Amanhã, sabe-se lá.

É uma das hipóteses entre as tantas que se manejam nestas horas em que não se vê ainda uma solução plausível para o conflito e “a coalizão dos de boa vontade” [“la coalizione dei volenterosi”] está dividida sobre tudo.

Dividida sobre o comando das operações (França? Estados Unidos? Otan?), sobre os objetivos finais (apoio incondicionado aos rebeldes “pro-democracy” de Bengazi? Mas e se no fim não fossem todos assim tão “pro-democracy” ou todos “facebook boys” e se confirmassem os temores da inteligência dos EUA que lembra que o leste da Líbia é a região que, de todo o mundo árabe-islâmico, mandou mais “jihadistas” e kamikazes ao Iraque e ao Afeganistão?), sobre a “exit strategy” (uma solução apenas militar a encerrar-se não com um possível exílio, mas com o “regime change” e a eliminação física de Kadafi? Uma solução política, mas a ser inventada, como recomendam os BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China –, Turquia, Alemanha e a constrangidíssima Itália de Berlusconi?).

A Itália, desde sempre parceira privilegiada da Líbia de Kadafi, é aquela que provavelmente levará a pior. Em 2008, Berlusconi tinha finalmente encerrado o contencioso entre os dois países recebendo Kadafi em Roma, com pompa e circunstância, depois da assinatura de um acordo que garantia, de um lado, desculpas e indenizações pelas atrocidades cometidas pelos italianos nas três décadas de colonização (1911-1942) e, de outro, o fornecimento de petróleo (a Líbia abastece 26% da demanda energética italiana) e a promessa de Kadafi de interromper (com todos os meios, até os mais brutais e desumanos) a corrida migratória dos “boat-people” do Magreb e da África subsaariana em direção à Itália.

A Líbia está espremida entre a Tunísia a ocidente e o Egito a oriente. É claro que o “vento do Magreb” partido de Tunis em dezembro, que sopra também sobre o Marrocos e a Argélia e que se abateu como um furacão sobre o Cairo em janeiro, tendo varrido o estorvo de velhos entulhos em ligação direta com os Estados Unidos (e Israel) como Ben Ali e Mubarak, chegaria também à Líbia, onde também o “Qaid” (o Guia) Muammar Kadafi esbanja, há 42 anos, um poder absoluto impossível de esconder atrás do véu do suposto “poder das massas” anunciado no “Livro Verde”.

O vento partido do Magreb ultrapassou o Magreb e ergueu uma onda que seguiu e seguirá adiante, mesmo que não esteja ainda claro em que praia acabará por depositar-se. Nem se será um tsunami ou apenas uma marolinha suficiente para misturar um pouco as cartas, mas deixando-as nas mãos dos mesmos de sempre depois de alguma forma de “maquiagem democrática”. O Iêmen (que será o próximo elo na cadeia a ceder), o Bahrein (espremido entre a Arábia Saudita e o Irã, salvo por enquanto pelo contingente militar saudita, uma “ajuda fraterna” que não suscitou nenhum protesto “humanitário” do Ocidente, e sobretudo pelo fato de ser a sede da V frota dos EUA), a Síria da dinastia Assad, a frágil Jordânia e o fragilíssimo Líbano, o Iraque da guerra inacabada, a Arábia Saudita (gigante dos pés de argila, grande exportador de petróleo para os Estados Unidos e de “jihad”, a guerra santa islâmica, contra os Estados Unidos), e as petro-monarquias do Golfo (pequenos estados petrolíferos e paraísos financeiros, em geral inventados e presenteados pelo colonialismo, de base familiar e tribal). Até a Palestina, ocupada e violentada por Israel no silêncio culposo do Ocidente (que busca encontrar a força para lançar a terceira Intifada) e a própria Israel, lançada em uma deriva irrefreável de extrema direita (que observa silenciosa e desconfiada a queda como pinos de boliche dos “inimigos” árabes que lhe garantiam o status quo e esquenta os motores para o seu verdadeiro objetivo, o Irã). Ninguém pode se dizer protegido do vento do Magreb.

É por isto que a partida que está sendo jogada na Líbia é decisiva. E quanto mais Kadafi “resiste”, mais crescem os riscos.

Tudo leva a crer que o coronel, mesmo que esteja se revelando um osso muito mais duro de roer do que Mubarak e Ben Ali, seja queimado. Mas ele sabe bem que a Líbia é um país diferente da Tunísia e do Egito – exército fraco, partidos políticos e sociedade civil inexistente, estrutura tribal forte – e tem, da sua parte, três armas poderosas para usar. O petróleo, a ameaça do recurso (ou do retorno) ao terrorismo, a imigração em massa em direção à “Fortaleza Europa” – da qual pode reabrir as torneiras.

A “guerra humanitária” – para “proteger a vida de civis”, para “exportar a democracia” (de novo!) e para meter as mãos no petróleo libanês, 75% do qual está na Cirenaica “liberada” pelos rebeldes – que os Estados Unidos, França e Inglaterra deflagraram contra Kadafi não vai parar. Mesmo que seja uma “guerra humanitária” com uma cobertura da ONU e da OTAN apressada demais e voltada “ad personam” para conferir-lhe alguma legalidade (por que Kadafi sim e não o Iêmen, o Bahrein ou a Costa do Marfim com o seu milhão de civis em fuga do conflito entre os dois presidentes Gbabo e Ouattara?).

Kadafi, com toda probabilidade, está queimado, mas a partida que se joga na Líbia não acabou ainda. O seu resultado final determinará a verdadeira dimensão daquela que foi chamada “a primavera árabe”.

Em jogo não estão apenas as reeleições de Sarkozy e Obama – o Nobel da paz que já tem nas costas duas guerras em andamento, uma na qual promoveu uma espetacular escalada e outra começada por ele, sem contar o golpe de 2009 em Honduras – mas o futuro arranjo da área provavelmente mais estratégica do mundo, pelo menos enquanto não acabar o petróleo e for o teatro do encontro-confronto da civilização com o Islã.

Tradução: Rodrigo Torres Guedes