terça-feira, 30 de setembro de 2014

Porque eu não consigo votar em ninguém!


Eu voto nulo. Não como um voto de protesto ou por pensar que se tantos outros votarem como eu a eleição será anulada. Já cheguei até a votar em alguns candidatos em outros pleitos por acreditar na pessoa, nos ideais e postura, bem como em qualificar a representatividade. No entanto, hoje não acredito que qualquer candidato esteja disposto a melhorar a qualidade de vida da população e que tenha força política para travar essa batalha dentro e fora do seu partido político.

Seja evangélico, ruralista, conservador, partidário, coronel, empresário. De vereador a presidente, no princípio, agora e sempre, é tudo dinheiro! Haja vista o noticiário, da direita ou esquerda, que só apresenta a ponta do iceberg. Seja do baixo ou alto clero, a realeza tupiniquim dos palácios do século XXI se veste com o manto de sangue da guerra civil que a mesma herdou, manteve e alimentou no Brasil.

Não podemos responsabilizar os partidos políticos pelo conflito de classes presente desde que surgiram as classes sociais por aqui. Aliás, foi para combater a intolerância, a corrupção e as injustiças sociais que os mesmos foram criados. Bem é verdade que o regime democrático é um jovem com cerca de trinta anos. No entanto, esse jovem sistema corrupto se retroalimenta de tal forma, por elites criminosas que aparelham instituições legitimas, com imenso potencial de destruição, comportamentos nocivos e notórios traços de psicopatia. Um caso clinicamente irreversível, segundo os especialistas.

Pode parecer radical como discurso, no entanto, entre essas e outras o fato é que o sistema político ainda é privado. O famoso capital financeiro domina e custeia as relações, da campanha às assembleias e depois aos tribunais. Assim, direitos civis, trabalhistas, sociais e ambientais viram artifício para atender o “fetiche ostentação” dos políticos. Contraditórios por natureza, não há princípios para definir suas alianças, senão a prática da conta poupança da corrupção e conta corrente da compra de votos. Esse é o critério de aprovação de seus projetos de vida.

Tivemos, há pouco mais de uma década, uma oportunidade histórica para mudar essa dinâmica, com o surgimento de uma expressão na política contemporânea. Poderia ser o candidato capaz de romper com os paradigmas, devido seu valor simbólico, sua militância. Mas seu governo recatou-se em uma política social democrata que beijou os pés dos mesmos coronéis, beirou as fronteiras do assistencialismo, atendeu aos interesses dos mesmos bancos privados e públicos, das oligarquias coloniais e regionais, enfim. Uma decepção para quem sonhava com um outro mundo possível. A diminuição da pobreza extrema foi sua única conquista, uma vitória memorável e mensurável. Só que daí em adiante, parou no crédito e no endividamento da família brasileira a curtos, médios e longos prazos. Depois de comprado, tudo ficou muito parecido com o que estava e a carta aberta ao povo brasileiro incinerou na fogueira de vaidades.

Mas, se a via dos partidos políticos não é mais a via, qual seria?

Os militares estão se coçando na cadeira e seus soldados civis já esbravejam por aí que estão preparando os porões. Triste é ver o mesmo fascismo disfarçado no discurso conservador da velha e rica direita, que se adapta tanto ao meio a ponto de se apresentar como esquerda ou centro. Seja como candidata(o), eleitor(a) ou imprensa, a carapuça serve!

No momento, a via é de mão única. Prestes a caminhar em direção àquela escola pública, obrigatoriamente, penso nos inúmeros grupos organizados, verdadeiras comunidades, que abrem suas trilhas nos braços e rasgam as amarras da sociedade. Lembro dos milhares de atores que se organizam, se fortalecem para acessar os representantes políticos com propostas claras, cobranças precisas, atuação incisiva e persistente. Algo bem diferente de junho do ano passado. Pessoas que permanecem agindo como um antibiótico, silencioso e inexpressivo à percepção dos demais órgãos. Se não é o fim, ao menos é um bom caminho a percorrer.

Respeito sua escolha por um candidato e, seja quem você colocar lá, será enfrentado a discutir e realizar propostas pelos que estão realmente interessados na mudança, aqueles envolvidos em processos de construção de políticas públicas e orçamentos mais participativos. Seja via audiências e manifestações, conselhos e organizações civis, reuniões em paços, câmaras e assembleias.

No mais, me despeço sem cair na tentação da agressão mútua, carregada de ódio, preconceito e sequer peço seu voto. Não estou em campanha, estou na linha de frente com os milhares demais. Quem vier que venha armado de propostas ou será rendido por nós, amém!

sábado, 6 de setembro de 2014

Prefeitura de São Roque/SP lança edital para incentivar projetos culturais e artísticos



A partir de 08 de setembro de 2014 a Prefeitura de São Roque abre o período de inscrições para o primeiro edital do Fundo Municipal de Cultura. A proposta é incentivar ações de artistas, pesquisadores e produtores da cidade através de uma concorrência pública que irá selecionar os projetos mais qualificados.

As regras para participar do processo de seleção foram estabelecidas no Edital 001/2014, disponível para retirada na Divisão de Cultura, localizada no CEC Brasital (Av. Aracaí, 250 – Vila Aguiar) ou no site da Prefeitura Municipal – www.saoroque.sp.gov.br.

Cada projeto poderá ser inscrito em apenas uma das categorias previstas: projetos com custo total de até R$7.000,00 (sete mil reais) e projetos com custo total de até R$15.000,00 (quinze mil reais). Os proponentes poderão ser pessoas físicas ou jurídicas, tendo que comprovar atuação no segmento que solicitam o incentivo e residência no município de São Roque há pelo menos 2 (dois) anos.

A seleção e aprovação dos projetos será realizada pelo Conselho Municipal de Cultura e pareceristas contratados, seguindo os critérios estabelecidos no respectivo edital. Serão privilegiados projetos e ações nos segmentos de teatro, dança, música, literatura, circo, artes visuais, pesquisa, entre outros previstos na Lei nº 4.084, de 14 de Outubro de 2013, que corresponde à criação do Fundo Municipal de Cultura (é possível acessar a mesma no site da Câmara Municipal – www.camarasaoroque.sp.gov.br).

A verba total de apoio aos projetos será de aproximadamente 300 mil reais. “Acreditamos que esse edital será um marco histórico para a produção cultural e artística na cidade. O Conselho Municipal de Cultura agradece ao Prefeito Daniel pelo compromisso firmado ainda no período de campanha e convida toda a classe artística, comunidades tradicionais e a população para participar desse processo, seja inscrevendo projetos, divulgando para amigos e familiares ou prestigiando as atividades que serão contempladas”.

Dia 22 de setembro, às 19h, no CEC Brasital, o Fórum Permanente de Cultura irá realizar uma reunião extraordinária para esclarecer as dúvidas de artistas e produtores que pretendem apresentar projetos.

sábado, 2 de agosto de 2014

Con-Tradições

fonte - www.diariosorocaba.com.br
Como entrar nesse debate, de leve ou de sola? Apresentar as versões ou defender de forma apaixonada uma causa? No caso da Entrada dos Carros de Lenha e da presença dos carros de boi nas Festas de Agosto de São Roque, prefiro apenas subir no muro com algumas questões, visto que há alguns dias observo pela internet e ruas da cidade uma polarização do debate, entre os que são a favor e os contrários a presença dos animais no desfile. Me incomoda, o silêncio.


Nas mídias antissociais meia dúzia de ativistas convocam protestos pela saúde e integridade dos animais. Pessoas alheias comentam, curtem e compartilham. Do outro lado, no telefone sem fio, os boiadeiros alegam que não teriam mesmo como vir e que os bois são tratados melhor que muita gente. Os festeiros comentam sobre a burocracia na Prefeitura, custos, enfim, se caminharmos por aí daremos sempre na boataria da mesma praça.


Ao abrir o foco, ampliar a visão de modo que a realidade pareça uma paisagem, é possível exercitar com mais profundidade a reflexão sobre o tema. De cara, é ponto facultativo afirmar que não haverá consenso. No entanto, deve prevalecer como se trata a discussão e como se dão os argumentos na mídia e na sociedade local.


Se pensarmos no conceito de patrimônio cultural, de códigos comuns entre grupos e comunidades urbanas ou tradicionais, tudo ganha e perde sentido. Afinal, quem deve ou pode afirmar quais tradições devem ser mantidas ou descartadas? Devido sua crença, valor, ideal, uma tradição, ou parte dela, deve ser eliminada por conter partes impróprias à sua cultura? Vale a pena lutar por uma tradição, seja ela qual for? Ou ainda, tantas outras...


Caminhamos até aqui destruindo, alterando e construindo tradições, sem o menor critério, apenas por fetiche e dominação. Esse simples episódio, por exemplo, mostra o quão frágil são os elementos que compõem uma tradição e rasas as bases para sua quebra.


É arriscado sair afirmando serem raros os ativistas que se apresentam coerentes, que outros tantos saem por aí vestidos apenas de meia causa e que poucos sãos os que realmente se importam com a manutenção da tradição na cidade. Também seria cruel dizer que todo o resto, como eu, utiliza a questão apenas como tribuna, palco ou vitrine.



Portanto, me encantam muito mais as perguntas do que as respostas!

sábado, 10 de maio de 2014

O discurso de Pepe Mujica na ONU

"Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
 
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
 
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
 
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
 
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
 
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
 
Carrego o dever de lutar por pátria para todos. Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
 
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes. O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
 
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
 
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
 
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
 
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
 
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
 
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
 
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
 
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
 
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
 
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
 
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…
 
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
 
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
 
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
 
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
 
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negatica e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso.
 
A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
 
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
 
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
 
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
 
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
 
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra cuando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
 
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
 
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
 
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
 
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
 
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
 
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
 
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
 
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
 
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
 
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências.
 
Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.

Obrigado! "

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Fórum de Cultura inicia cadastramento de artistas, produtores e instituições - em São Roque/SP

Hoje (03/02), às 19h, no CEC Brasital, o Fórum Permanente de Cultura dará início ao cadastramento de artistas, produtores, instituições e comunidades tradicionais. O objetivo é mapear a produção cultural na cidade e os atores envolvidos no processo para pautar como será aplicada a verba do Fundo Municipal de Cultura nos próximos anos, bem como, subsidiar a construção do Plano Municipal de Cultura.

A ferramenta utilizada pelos membros do Fórum será o SNIIC – Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais – base de dados proposta pelo Ministério da Cultura. Os interessados podem acessar o site http://sniic.cultura.gov.br/ para obter mais informações, bem como, fazer sua inscrição por conta própria.



Participe e colabore na construção da Política Pública de Cultura da sua cidade!