quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gabeira na Brasital

“O escritor possui uma sensação irresistível de se colocar no lugar do outro” (Fernando Gabeira)


Dia 21/06, Fernando Gabeira participou do programa “Viagem Literária”, da Secretaria de Estado da Cultura, na Biblioteca Pública Municipal Arthur Riedel, em São Roque/SP. Gabeira contou sua história e respondeu perguntas sobre luta armada, código florestal, legalização das drogas, literatura, entre outros temas. O Blog Cultura Interior prestigiou o evento e fez uma entrevista com o escritor.


Movimento Estudantil

Quando questionado sobre o atual papel político dos jovens e do movimento estudantil no Brasil, Fernando Gabeira disse não ver protagonismo e criticou a relação da UNE com o governo. “O movimento estudantil depende do contexto histórico de onde atua. Hoje vivemos uma situação singular no Brasil onde a relação do movimento estudantil com o governo é de ‘chapa branca’. O governo Lula financiou a UNE, por exemplo, e isso não é nada positivo para o movimento”.

Legalização das Drogas e “Marcha da Maconha”

Recentemente a discussão sobre a legalização das drogas tem estampado as manchetes da imprensa no Brasil. Fernando Gabeira já defendeu publicamente em diversas ocasiões a legalização da maconha, por exemplo. Agora, adota uma posição mais conservadora, dizendo que o país tem que se preparar antes de fazer a legalização.

“Essa história da maconha daria uma palestra. Eu sou ligado ao movimento em defesa da legalização desde 1979. Na época do governo do Fernando Henrique eu também fui convidado, junto com o deputado Elias Murad, para encampar essa discussão pelo país, pois o governo queria avaliar essa questão junto à sociedade, abrindo um debate. Observando até mesmo como eram formadas as mesas pude perceber que a situação é muito mais complexa. Nos debates havia sempre um representante da polícia, um de familiares de usuários e um representante de alguma religião. Depois de avaliar os debates por um tempo percebi que os Estados não podem liberar algo que eles não têm parâmetros para controlar. Na Holanda os coffee shops (onde as pessoas compram maconha para consumir no local) são monitorados. Há um monitoramento por câmeras e um controle muito mais sofisticado. Com relação ao Brasil e a recente ‘Marcha da Maconha’, acho que a manifestação é legítima, afinal não há nenhuma lei que não possa ser contestada. E ainda acredito que quem deveria tratar dessa questão é o Congresso Nacional. O parlamento brasileiro é tão covarde e escondido, ligado apenas aos interesses de governo, que não trata das questões mais polêmicas da nossa sociedade. No entanto, para legalizar as drogas no Brasil eu vejo que o ponto central é a polícia, que muitas vezes é responsável em auxiliar o tráfico ao invés de combatê-lo”.

O escritor ainda comentou a pergunta da platéia sobre FHC estar usando a legalização com interesses eleitorais, para se promover entre o público jovem. “Vejo que o Fernando Henrique já tem cerca de 80 anos, não é candidato a nada e acho que ele está defendendo uma política internacional, sem nenhum interesse eleitoral”.

Código Florestal

Durante o bate-papo com os jovens, Fernando Gabeira foi questionado sobre as mudanças no Código Florestal brasileiro. O escritor tem uma posição otimista, porém crítica, sobre a situação.


“Nós evoluímos, temos uma posição muito melhor do que no passado. Nos anos 70 o governo vigente era totalmente avesso a questão ambiental, chegando ao ponto de fazer anúncios em jornais como o The New York Times do tipo: ‘venha para o país da poluição! Aqui suas empresas poluentes são bem-vindas!’. No entanto, a discussão atual sobre o Código Florestal está sendo conduzida de maneira equivocada, tratando todo o território nacional sem distinções. Nós defendemos o zoneamento ambiental, pois assim elevamos a forma como iremos estabelecer os critérios da regulamentação. Hoje estamos criando padrões para regiões que possuem características diversas. Com relação a fiscalização dos crimes ambientais e as multas, temos a transgressão dos autuados. As multas não são pagas e geram processos que nunca são resolvidos. Além disso, o IBAMA possui falhas de estudo e avaliação que abrem precedente para os advogados dos infratores. Precisamos estabelecer uma base científica sólida para tratar dessa discussão”

Luta Armada

Fernando Gabeira foi um dos principais personagens da revolução armada contra a última ditadura militar no Brasil, participando ativamente no emblemático sequestro do embaixador norte-americano e depois relatando a história no livro “O Que É Isso, Companheiro?”. Durante a entrevista, o escritor falou como avalia esse tipo de luta, após anos de vivência política.


“A minha paixão hoje é muito mais ‘gandhiana’. Eu considero que essa é uma forma de luta equivocada, salvo raras exceções. Se formos invadidos por um país ou se tivermos um embate social (como foi a questão do racismo na África do Sul). No caso brasileiro, a luta foi travada por um grupo que acreditava estar representando a vontade da sociedade brasileira da época, mas o país não queria a luta armada. Muitas pessoas lutaram pacificamente para acabar com a ditadura e acho que se todos tivessem seguido esse caminho a ditadura teria terminado muito antes”.

Allende – Assassinato ou Suicídio

Outra questão levantada pelo Blog Cultura Interior foi o caso do ex-presidente chinelo Salvador Allende. Recentemente foi anunciada a exumação do corpo de Allende para avaliar se houve suicídio ou assassinato. Gabeira, que esteve exilado no Chile na época dos acontecimentos, acredita que a verdade está próxima de ser revelada.

“Eu acredito que ele foi assassinado. Mas acho que temos de esperar a conclusão do estudo para ter certeza do que ocorreu na ocasião”.

por Mário Barroso
MTB: 47.431/SP

2 comentários:

ADEMAR SANTIAGO - SÃO ROQUE disse...

Muito boa reportagem, Mário. Não diria que Salvador Allende foi assassinado: o que ocorreu foi um massacre, onde Allende e alguns companheiros lutaram até acabar a munição> O grande comunista Allende afirmou que só sairia do La Moneda morto. E assim foi, houve um bombardeio medonho sobreo Palácio, que ficou em ruínas,depois Pinocho reconstruiu com o dinheiro do povo.
Gabeira deveria saber disso, todo mundo no Chile sabe quem foi bom e quem foi mau. Abração amigo!

Incas Marcianos disse...

Bem legal a reportagem Mário! É sempre legal escutar as opiniões do Gabeira, pois ainda que sejam enviesadas nos seus tempos de juventude, continuam atuais. Valeu também o puxão de orelha da UNE, que não pode simplesmente servir de apaziguadora entre a força de vontade dos estudantes e a opinião do governo. Um abraço!