Acompanhando o estudo de Werneck podemos observar que a cultura brasileira surge como um transplante da cultura portuguesa, bem como, européia.
Como mostram outros historiadores, isso não se caracteriza como um fenômeno único. Na história dos povos ibéricos, árabes, asiáticos, o processo de influência de uma cultura dominante pela dominada (em situações pós-guerra, dentre outros motivos), na verdade, quase sempre caracteriza-se por uma transposição.
No caso do Brasil e dos demais países americanos, como também dos africanos, o que difere é a condição inicial de colônia. Como bem ilustra Gilberto Freire em "Casa Grande & Senzala" o Brasil ficou condicionado a ser o quintal de Portugal e posteriormente de outros países ibéricos. Inicialmente não havia uma plano de ocupação claro senão apenas um processo extrativista e predatório.
Milhões de indígenas foram dizimados por doenças, conflitos, muitos suicidaram-se por não suportar as condições de trabalho escravo e os rebeldes que não aceitaram ser catequizados fugiram para o interior do território.
Os jesuítas tiveram um papel de múltiplas facetas neste processo. Entre os estudos de vários historiadores podemos observar que muitos vieram para cá por idealismo, para arrebanhar fiéis, no entanto, outros muitos se tornaram hábeis mercadores, desenvolvendo técnicas de barganha tanto para com o índio quanto para com a coroa.
Essa ambigüidade trouxe problemas aos missionários jesuítas no final do século XVIII. Após o tratado de Madri não foi possível mais permanecer em cima do muro e então a ordem ficou entre a Cruz e a Coroa, chegando até a ser expulsa do país que estava "ajudando" a formar.
A língua tupi-guarani desenvolvida por eles em conjunto com os índios e falada pela imensa maioria da população colonial então teve que ser substituída pela nova língua oficial: o português. Esse foi o golpe final dos europeus para evitar qualquer influência determinante do indígena na cultura recém-transplantada. Como coloca Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", até o início do século XVIII a língua mais falada na província de São Paulo, por exemplo, era o tupi-guarani. Hoje é o Português, no entanto, na maioria dos nomes dos bairros e rios da cidade ainda prevalece o tupi.
Por Mário Sérgio Barroso
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