terça-feira, 10 de setembro de 2013

Área VIP: comodidade ou commodity?


Em pleno século XXI, assistimos uma prática medieval na realização dos mais diversos eventos. A Área Vip, em suas mais variadas formas, consiste em um modelo brutal e preconceituoso de dividir o público. Quem tem mais grana ou influência tem o direito de poder ser privilegiado em um evento privado ou público-privado (como no caso de atividades realizadas com incentivos fiscais e afins, inúmeros dos principais eventos, diga-se de passagem).

 
Essa prática comum vem der berço, do berço da civilização ocidental. Desde que os nobres, reis e fidalgos, os clérigos e militares, tinham sua área privilegiada nas touradas, nos eventos cívicos, nos julgamentos e execuções em praças públicas, entre outras manifestações.
 

Com a instauração das “democraturas”, principalmente nos países da Europa e América, houve uma pequena alteração na concepção dos eventos e de quem seriam os vips: “aqueles que podem pagar mais!”, essa é a única distinção atual. Por conseqüência, essa prática abominável se proliferou como uma epidemia que levou a morte da consciência dos produtores, bem como, do público que compra esse tipo de entrada, corrompido pela oportunidade que o poder aquisitivo proporciona. Em muitos casos ainda, os vips são os únicos a terem acesso a compra de determinados setores ou entradas, ato que seria extremamente inconstitucional se o capital estivesse submetido ao bem estar social e à legislação vigente!
 
Assim, os eventos tornam-se cada dia mais superfaturados, no entanto, a estrutura dos mesmos decepciona. O público ainda é vítima de um descaso preliminar, desde o formato da compra e venda de ingressos até a disposição de banheiros, dos preços praticados nas praças de alimentação até os equipamentos de som e luz (não compatíveis com os espaços). De modo geral, um sacrilégio com a produção artística!
 
O sectário mais crítico pode até afirmar: “Não tem dinheiro? Fica em casa!”. Mas se avaliarmos a questão com um pouco de senso crítico, sem emoção ou bandeiras políticas, o fato é que essa prática evidencia o modelo de sociedade em que vivemos, onde o status é o valor de mercado da pessoa física. Fato que se repete em outros tantos segmentos possíveis e imagináveis.
 
Se não bastasse denunciar a brutalidade das relações de poder, essa situação vai contra as convenções, diretrizes, legislação, entre outras ferramentas que dispõem sobre os Direitos Culturais. No entanto, esse modelo parece continuar em voga, sem qualquer manifestação organizada contrária. E quem continua pagando por isso?

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