Eu voto nulo. Não como um voto de protesto ou por pensar que se tantos outros votarem como eu a eleição será anulada. Já cheguei até a votar em alguns candidatos em outros pleitos por acreditar na pessoa, nos ideais e postura, bem como em qualificar a representatividade. No entanto, hoje não acredito que qualquer candidato esteja disposto a melhorar a qualidade de vida da população e que tenha força política para travar essa batalha dentro e fora do seu partido político.
Seja evangélico, ruralista, conservador, partidário, coronel, empresário. De vereador a presidente, no princípio, agora e sempre, é tudo dinheiro! Haja vista o noticiário, da direita ou esquerda, que só apresenta a ponta do iceberg. Seja do baixo ou alto clero, a realeza tupiniquim dos palácios do século XXI se veste com o manto de sangue da guerra civil que a mesma herdou, manteve e alimentou no Brasil.
Não podemos responsabilizar os partidos políticos pelo conflito de classes presente desde que surgiram as classes sociais por aqui. Aliás, foi para combater a intolerância, a corrupção e as injustiças sociais que os mesmos foram criados. Bem é verdade que o regime democrático é um jovem com cerca de trinta anos. No entanto, esse jovem sistema corrupto se retroalimenta de tal forma, por elites criminosas que aparelham instituições legitimas, com imenso potencial de destruição, comportamentos nocivos e notórios traços de psicopatia. Um caso clinicamente irreversível, segundo os especialistas.
Pode parecer radical como discurso, no entanto, entre essas e outras o fato é que o sistema político ainda é privado. O famoso capital financeiro domina e custeia as relações, da campanha às assembleias e depois aos tribunais. Assim, direitos civis, trabalhistas, sociais e ambientais viram artifício para atender o “fetiche ostentação” dos políticos. Contraditórios por natureza, não há princípios para definir suas alianças, senão a prática da conta poupança da corrupção e conta corrente da compra de votos. Esse é o critério de aprovação de seus projetos de vida.
Tivemos, há pouco mais de uma década, uma oportunidade histórica para mudar essa dinâmica, com o surgimento de uma expressão na política contemporânea. Poderia ser o candidato capaz de romper com os paradigmas, devido seu valor simbólico, sua militância. Mas seu governo recatou-se em uma política social democrata que beijou os pés dos mesmos coronéis, beirou as fronteiras do assistencialismo, atendeu aos interesses dos mesmos bancos privados e públicos, das oligarquias coloniais e regionais, enfim. Uma decepção para quem sonhava com um outro mundo possível. A diminuição da pobreza extrema foi sua única conquista, uma vitória memorável e mensurável. Só que daí em adiante, parou no crédito e no endividamento da família brasileira a curtos, médios e longos prazos. Depois de comprado, tudo ficou muito parecido com o que estava e a carta aberta ao povo brasileiro incinerou na fogueira de vaidades.
Mas, se a via dos partidos políticos não é mais a via, qual seria?
Os militares estão se coçando na cadeira e seus soldados civis já esbravejam por aí que estão preparando os porões. Triste é ver o mesmo fascismo disfarçado no discurso conservador da velha e rica direita, que se adapta tanto ao meio a ponto de se apresentar como esquerda ou centro. Seja como candidata(o), eleitor(a) ou imprensa, a carapuça serve!
No momento, a via é de mão única. Prestes a caminhar em direção àquela escola pública, obrigatoriamente, penso nos inúmeros grupos organizados, verdadeiras comunidades, que abrem suas trilhas nos braços e rasgam as amarras da sociedade. Lembro dos milhares de atores que se organizam, se fortalecem para acessar os representantes políticos com propostas claras, cobranças precisas, atuação incisiva e persistente. Algo bem diferente de junho do ano passado. Pessoas que permanecem agindo como um antibiótico, silencioso e inexpressivo à percepção dos demais órgãos. Se não é o fim, ao menos é um bom caminho a percorrer.
Respeito sua escolha por um candidato e, seja quem você colocar lá, será enfrentado a discutir e realizar propostas pelos que estão realmente interessados na mudança, aqueles envolvidos em processos de construção de políticas públicas e orçamentos mais participativos. Seja via audiências e manifestações, conselhos e organizações civis, reuniões em paços, câmaras e assembleias.
No mais, me despeço sem cair na tentação da agressão mútua, carregada de ódio, preconceito e sequer peço seu voto. Não estou em campanha, estou na linha de frente com os milhares demais. Quem vier que venha armado de propostas ou será rendido por nós, amém!