Meus versos não me procuram
mais,
Parece que nunca compus
nada.
O trabalho burocrático
enjaulou a poesia,
Como um marido machão que
não permite
Sua esposa, sequer, querer
dançar.
Assim minha mente, mente.
Já não sei se é por falta de
tempo
Ou de convicções.
Hoje sou resultado de um
processo
Que me leva ao progresso
material
E ao retrocesso.
A cada três versos, empaco
A cada três passos, tropeço.
Pulando de galho em galho
Busco alimentos na árvore da
vida
E como predador do sistema,
me tornei presa fácil.
Mas é assim, só não poderia.
Meu violão novo brilha na
estante
Só, não tenho tempo de
tocá-lo um instante.
Chego a ter ódio da rima
fácil e barata,
No entanto só ela me resta
Diante de todo o resto.
Não me dou por vencido,
Apenas desabafo esse sufoco,
impreciso,
Pois preciso voltar a criar.
Agora entendo a angústia de
Deus,
Que não pára de brincar com o
Universo
Com medo de parar de viver,
renegando a labuta.
Agora compreendo a angústia
De me tornar mais um músico
de quermesse
Que só toca o que toca.
A repartição me espedaça
E o que sobra não enaltece.
Por ser tão vil como me
sinto,
Primo pobre da sabedoria,
Não há um acorde menor que me
expresse.