terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Extra! Extra! Acharam o zika vírus responsável pelo preconceito e intolerância na cultura de massas: o rock!

Esse “senhor branco, arrogante, machista, conservador e bunda mole".



Se você comprou essa e saiu compartilhando por aí, esta correndo o risco de andar na mesma linha dos que acreditavam a terra ser quadrada num passado não muito distante! O texto publicado pelo escritor e jornalista Fred Di Giacomo incomoda pelos argumentos reducionistas e generalistas, bem como por externar um sentimento de revanchismo individual, disfarçado de coletivo.

Não há quem, em sã consciência, seja capaz de concordar com a saudação nazista do vocalista de metal Phil Anselmo. No entanto, a partir daí, criar comparações equivocadas entre bandas e estilos e ainda alegar que a MPB tem “valor” visto que é reconhecida até mesmo lá fora, nem merece comentários.

Vale ressaltar uma das principais fragilidades no texto: essa coisa de que “o rock deixou a música brasileira mais branca e careta” e que “o rock nacional nos fez ter vergonha da nossa cultura, dos nossos cabelos e dos nossos sotaques”. Mano, você precisa conhecer seu inimigo! Você encontra com ele todos os dias, na rua, na televisão, na escola, em casa, no trampo, mas não o reconhece?

Jogar a culpa histórica no rock é bater em bêbado! O rock é consequência dos desarranjos sociais e não causa. Sua estrutura sempre foi modificada pela indústria cultural, mas ela nunca foi capaz de uniformizar o estilo, o comportamento, sequer as ideologias de seus incontáveis subgrupos, principalmente na cena independente. Além disso, vale frisar que um cabeludo andando de preto na rua também é discriminado, leva geral e porrada da polícia sem motivo, é tirado de otário e ridicularizado pra todo lado, sem contar o status padrão de “playboy drogado” e “rebelde sem causa” pelas senhoras e senhores de conduta ilibada da sociedade. Só que isso já é outra história...

O que preocupa mesmo no seu texto é esse tom de arianismo ao avesso, que só considera cultura brasileira legítima um grupo ou manifestação artística que tenha um negro cantando ou tocando um instrumento. Não vou cometer a audácia de definir o que é cultura popular, deixo isso para os mestres, doutores e afins. Como mero operário da cultura, que trabalha com música e produção desde moleque, só sei que isso não passa de estereótipo!

Outro ponto a se destacar é que em qualquer estilo de música sempre haverá aqueles que escrevem letras questionáveis, criam melodias simplistas, se julgam “O Artista”, tomam atitudes contestáveis, os quais acreditam que suas obras, opiniões e expressões estão acima de tudo e de todos. Mas generalizar um estilo, já marginalizado, pela atitude de um cara e de seus amigos pessoais na adolescência é lamentável...

Ah Fred! Na boa, você precisa voltar pra escola, fazer a lição de casa e reconhecer de fato quem é o seu inimigo!